Uma Conversa
Pergunta(P): Quando você decidiu ser médico?
Resposta(R): Decidi ser médico aos 15 anos de idade.
P: Quais os motivos que o levaram a estudar medicina?
R: Eu queria compreender a mente humana e o que a leva ao adoecimento. Queria também curar as pessoas doentes de uma maneira geral. Essas foram as fantasias que me motivaram a buscar a medicina.
P: Você fez Psiquiatria?
R: Não. Quando entrei na faculdade era o meu objetivo, mas foi justamente buscando esse caminho é que fui trabalhar e estudar com a Dra. Nise da Silveira e, por causa dessa convivência com ela, me tornei adepto do movimento antipsiquiatria e antimanicomial desistindo de ser psiquiatra.
P: E aí?
R: Restou buscar curar os doentes de uma maneira geral. (Rsrsrs). Minha fantasia de curador era a de um médico homeopata. Quando criança tinha asma grave e sofria muito. Minha mãe me levou a diversos médicos em Petrópolis e no Rio de Janeiro. Fiz todos os tratamentos mais "modernos" da época. De nada adiantou. Um belo dia fui no consultório de um médico que colocou uma fralda de pano nas minhas costas e escutou meu pulmão com sua própria orelha. Aquilo foi uma novidade para mim. Tinha na época uns 10 anos de idade. Saímos do consultório e fomos aviar a receita numa farmácia de aparência antiga que ficava na galeria do mesmo prédio. Lembro que cheguei em casa e tomei aquelas bolinhas brancas doces, muito diferentes dos medicamentos que estava habituado. Eu nunca mais tive crises de asma. Nunca mais. Para mim aquele médico foi meu o curador. Era o Dr. Roberto Costa. Anos mais tarde fui seu aluno e discípulo. Quando fui para faculdade, no meu imaginário, a cura vinha da Homeopatia. É uma terapia que não separa o corpo da mente e do Espirito o que respondia muitas das minhas indagações como estudante de medicina. A partir da homeopatia fui levado à medicina tradicional chinesa e , principalmente, à medicina ayurvédica da índia, que fez toda a diferença na minha vida, não só profissional, mas pessoal e espiritual. Entretanto, para minha surpresa, a homeopatia não era aceita no mundo acadêmico, apesar de, já naquela época, ser uma Especialidade Médica reconhecida. Estudar Homeopatia se tornou uma paixão e um desafio para mim. Sabia entretanto que não conseguiria avançar na medicina só como homeopata.
P: Qual foi então o caminho que escolheu seguir na medicina?
R: A Medicina foi antes de tudo para mim uma dura e enriquecedora experiência de vida, muito mais do que uma simples profissão que poderia me ter trazido status, fama ou dinheiro. Nunca busquei isso. O convívio com o sofrimento no dia a dia me fez refletir bastante sobre a realidade da vida e foi isso que deu sentido à medicina para mim. A possibilidade que a profissão me trouxe de viver de perto a fragilidade real da natureza humana e a a compreensão de que a compaixão é a única realidade que dá sentido a existência. Procurei seguir o caminho onde achava que eu poderia ser mais útil para as pessoas. Optei por ser um generalista.
P: Como foi essa vivência médica?
R: Como clínico , no início da carreira, trabalhei muitos anos em enfermarias de hospitais, emergências e CTI. Paralelamente buscava sempre formações mais humanizadas nas terapias holísticas. Depois de 15 anos de formado abandonei a vida hospitalar e decidi me dedicar somente à atenção primária. Durante outros 15 anos consegui realizar um trabalho mais leve, com medicina natural junto ao Programa de Saúde da Família da rede pública em diversas cidades no Brasil, com muito mais humanização culminando num trabalho numa comunidade Quilombola no interior do Rio de Janeiro. Tudo acabou na Pandemia. Voltei para os hospitais. Dessa vez por uma razão humanitária. Como médico e ser humano sabia que não podia me esconder daquela catástrofe. Durante toda a minha vida profissional nunca me senti tão útil, mesmo sabendo que arriscava minha pele. Fui para linha de frente da Covid por opção e tive vivências muito duras.
P: Foram as experiências profissionais que te tornaram escritor?
R: Sim. Foi a dor existencial da rotina profissional de uma pessoa sensível. Aos poucos fui percebendo que esse "sensível" não era o médico. Com o tempo esse sentimento foi crescendo e culminando por compreender que a Medicina Convencional e a Sensibilidade nunca andaram de mãos dadas e são, na maioria das vezes, antagônicos e distantes entre entre si. Como homeopata essa distância se fazia muito menor. Era possível ser sensível. Em muitas situações entretanto a medicina homeopática não cabia. Principalmente dentro de hospitais. Naqueles ambientes não podia dar voz ao "sensível." Essa angustiante experiência sensitiva não poderia ficar calada dentro de mim. De alguma forma precisava expressar para que leitores pudessem ter acesso a essas percepções e terem a oportunidade de se protegerem, de alguma forma, desse mundo da medicina convencional, que muitas vezes pode ser extremamente danoso.
P: E como se deu esse processo?
R: Informalmente eu sempre escrevi. O mundo racional nunca foi suficiente para mim. Desde a adolescência, quando aborrecido, escrevia para mim mesmo. Esse exercício me desafogava. Anos mais tarde, na Casa das Palmeiras e no Museu do Inconsciente fui compreender o quão terapêutico e necessário é, para a saúde mental, dar asas à imaginação. O convívio com a Dra. Nise foi determinante nesse processo. Comecei então escrevendo textos, de assuntos variados para jornais. Por algumas vezes iniciei alguns romances ficcionais. Nunca consegui dar continuidade. Isso sempre me incomodava muito, pois intuitivamente sabia que escrever romances era vital para minha sobrevivência. Procrastinei até me ver isolado em plantões na Pandemia. Naqueles momentos o fantasma do meu fim era muito real e não me largava nenhum minuto sequer. Nunca a morte chegou tão perto. Ali foi o cheque-mate do inconsciente. Ou escrever ou enlouquecer. Nas horas vagas das madrugadas dos hospitais o Matthias Zavhery sempre aparecia para trabalhar (Risos).
P: Quem é Matthias Zavhery?
R: Matthias Zavhery é um escritor angolano.
P: (Risos). Então que tipo de relação existe entre você e Matthias Zavhery?
R: Somos personalidades bem diferentes que dividem um mesmo corpo.
P: Matthias Zavhery então não é o Carlos Lyrio?
R: Não.
P: É um personagem criado por Carlos Lyrio?
R: Também não. É uma personalidade viva e independente com características próprias e únicas. Ele só não tem RG, CPF ou Passaporte.
P: Qual a diferença mais marcante entre os dois?
R: Eu diria que Carlos Lyrio "viveu" a vida do lado de fora e Mathias "sentiu" a vida do lado de dentro. E ambas as situações não foram escolhas. Foram imposições do destino.
P: Já que habitam o mesmo corpo, porque Matthias tem outros pais, outra data e outro local de Nascimeto?
R: Matthias Zavhery nasceu no dia em que se "percebeu vivo" e, a partir daí, toda a sua história foi intuitivamente construída na realidade imaginária.
P: Então, a Biografia de Matthias Zavhery não é verdadeira, é imaginação?
R: Depende do que você considera como Verdadeiro. Para mim a realidade imaginária é tão ou mais verdadeira que a realidade concreta. Como já dizia a Dra. Nise da Silveira: "Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda".
P: Para encerrar, fale então um pouco sobre a obra de Matthias Zavhery.
R: Matthias Zavhery fala por si mesmo. Tem seu trabalho próprio. Convido a todos que quiserem saber detalhes de sua vida e obra a navegarem no site ou acessar suas Redes Sociais no Facebook ou Instagran.